Um dia eu estive com 76 anos e ali, sentada na varanda eu olhava a rua, havia crinaças brincando, a grama era verdinha, um cachorrinho malhado de branco e marrom fazia um buraco no jardim, parecia ter encontrado um pedaço de pão velho que há alguns dias ele havia enterrado.
Eu sentada ali, olhava a vida que passou um dia.
Ela era diferente, eu era diferente, tinha cabelos castanhos e encaracolados, meu corpo ainda não percebia os estragos que o tempo faz na carne, porém na alma, o tempo foi amigo, me trouxe tranquilidade.
Ali eu pensava, porque havia me afligido tanto?
Chorado por amores não correspondidos, por erros cometidos, por tentativas frustradas.
Por que um dia eu me arrependi tanto por tentar ser feliz, por achar estar fazendo a coisa certa?
Por que eu deixei a ansiedade tomar conta de mim quase sempre?
Estas lágrimas não voltarão.
Agora eu não chorava mais.
Eu percebia que eu tinha todo direito de ser feliz, tinha todo direito de errar, tinha o direito de me arrepender e pedir desculpas, mas eu percebia ali que não cabia a mim cavar o perdão de outra pessoa, mas cabia a mim saber me perdoar.
Ali eu me vi jovem na minha frente, eu tinha os olhos arregalados, como quem sempre procurava alguma coisa, minha testa era franzida, parecia preocupada o tempo todo, minhas costas estavam curvadas, o mundo pesava bastante.
Mas isto deixou de fazer sentido quando eu tinha 76 anos.
Eu havia feito a última parada e estava chegando ao fim.
E o tempo me trouxe de presente alguns pensamentos:
-para que mendigar o sentimento de alguém, ele deve ser doado
-para que cobrar sentimento em volta, ele deve ser doado
-para que fugir, o que tem que ser acontece de qualquer maneira
-para que chorar, o sorriso transforma tudo
-para que se angustiar, a resposta esteve o tempo todo dentro de mim
Foi difícil perceber isso, mas com 76 anos, sentada ali na varanda eu percebia e não foi tarde demais, foi em tempo de respirar bem fundo, sentir meus pulmões e meu coração batendo forte e dizer adeus.
Percebeu isso antes dos 76, mas aprendeu?
ResponderExcluirPercebi, mas não aprendi ainda, voltei a ter 25 anos.
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